O anti Mefisto
Valéria del Cueto
Me
perdoe, mas não aceito o preço, nem qualquer tipo de recompensa. Infelizmente
não aprendi a ser o que não sou fingir o que não sinto ou amar o que odeio.
Odeio não, desprezo e quero bem longe do meu caminho torto. Pode me chamar do
que quiser. Dane-se! Não estou nem aí.
Nem
na hora de ficar velho reconhecerei que estou equivocado. Você sabe o
porquê? Por que sei que estou certo. Aprendi a ser assim. A não aceitar o
fácil, questionar o óbvio e nunca me deixar subjugar pelo opressor.
Não
adianta. Não sou igual a ninguém. E, como um ser único e indivisível, pretendo
chegar ao fim dos meus dias uno, íntegro e, se necessário for, radical e louco
pela verdade.
E
que venham as porradas. São inerentes as quedas. Porém, lembre-se, só cai quem
sobe!
Aprendi
a não tencionar a musculatura quando o choque é inevitável. É a pior opção.
Relaxe, mesmo que não dê para gozar. Retesar gera mais dor e menos capacidade
de absorção do impacto quando ele é inevitável...
Se,
ao contrário, a pancada for mais uma esmagada vinda de cima pra baixo, seja
sábio. Quando o armário cair na sua cabeça, mantenha-se firme. De lá, do alto,
vem de tudo. Apare o que interessa e livre-se dos pesos desprezáveis e
dispensáveis.
Depure-se.
Seja lá qual for o filtro vivencial aplicado.
É,
por que sobreviver é inevitável.
Relaxe,
mas não se entregue. Aguarde. Sempre. Acredite que melhores dias virão. Por
mais que isso se pareça com apenas mais um clichê de autoajuda.
“Auto
ajude-se”, nem que seja de mentirinha. Vai servir pra atrair energias melhores,
menos contaminadas pela maré baixa - e poluída - que inibe seus sentidos.
Use
sua fraqueza para se livrar de quem é do mal, daqueles que, na ânsia de se
darem bem na vida, não se preocupam em olhar onde estão pisando. Nem a quem
prejudicam com suas atitudes sórdidas e subrépticas.
Seja
ético, especialmente com quem nem sabe o significado dessa palavra que poderia
mudar – pra melhor - o mundo em que sobrevivemos.
Continue
sendo ético até com que joga sujo, não tem vergonha na cara, nem honra sua
palavra. Você poderá perder uma batalha, mas, certamente, estará ganhando a
guerra da coerência e da sua paz de espírito. O que, aparentemente não custa
nada, e até parece prejudicar, na verdade, voltará multiplicado para o seu bem
estar. Diz a lenda!
Que
seja apenas uma lenda, mas será ela que fará a diferença e não deixará que se
extingam seus padrões morais, que se deteriore sua certeza de que sempre haverá
a possibilidade de um futuro mais justo, com pessoas melhores e, mesmo que
poucas, mais honradas.
Não
se engane. Você fará parte de uma minoria que, por sua postura e suas atitudes,
se diferencia das demais.
Mas
saiba: isso nunca impedirá que a porrada venha. E que, num momento de desespero
(ninguém é invulnerável nem de ferro), haja, sim, uma reação. Se a tiver, que
seja com toda a pompa e circunstância.
Caso
isso seja impossível, não despreze um último e primoroso recurso: o silêncio
maldito das pragas bem rogadas.
Depois
abstraia. Siga sua vida e aguarde as voltas que ela dará, olhando de longe quem
te prejudicou. Nunca esquecendo que aquilo que vem, volta. E sempre! Como
o Aracuã...
Não
entendeu? Azar o seu, ou melhor, sorte, pesquise. O Google está aí para levá-lo
ao Pato Donald!
*Valéria
del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte
da série “Ponta do Leme” do SEM FIM
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada, volte sempre!