Pedra cantada - Na Rio +20 a
passagem "D" les no pé da ladeira
Texto e foto de Valéria del Cueto
Finalmente
a tarde tão esperada havia chegado! Ruas limpas, carros removidos, maquiagem
tinindo, fita exu para todo lado delimitando as vagas exclusivas da
"organização" do evento.
Espaço
reordenado, é a hora de uniformizar os figurantes da festa. Os mototaxistas que
sobem com os moradores e seus pacotes, partindo do pé da ladeira Ari Barroso,
ganharam camisetas com os dizeres LEME SERVICE (chamem o Ancelmo Gois!) pra
gringo entender.
Só
que, igual a doce, passou do ponto. A ordem fragilmente estabelecida na entrada
das comunidades desandou. Inexplicavelmente um trator despejou de sua caçamba
canos, caixas d'água, e outros badulaques na esquina onde, anteriormente,
estavam os tapumes que formavam a bandeira do PAC. Removidos, no local as
pedras portuguesas foram recolocadas deixando o trecho à direita de quem sobe
com cara de calçada novamente. Até ser ocupado pelas tralhas, minutos antes do
início do ritual de passagem da comitiva oficial morro acima.
Mais
cedo, para mostrar serviço, outro alguém resolveu dar mais uma guaribadinha no
entorno e aboletou um andaime na calçada da subida. Objetivo: consertar pedaços
de reboco despencado do prédio, acima dos sensacionais grafites de artistas
da comunidade.
Preocupado
em não lambrecar a obra de arte, um vistoso plástico preto protegia o desenho -
feito dois dias antes - dos resíduos do cimento preparado no piso de tábuas da
estrutura onde se apoiava a escada utilizada pelo funcionário encarregado de
remendar as quinas da parede... E a bagunça recomeçou.
Após
limparem até cartazes pregados nos postes da ladeira, mais no alto mandaram
pintar as portas do ferro do depósito, bem em frente ao bueiro de esgoto que
insistia em transbordar e descer pelo meio fio na direção da rua lá embaixo.
Foi
neste contexto e com esse aspecto de desleixo que os batedores abriram caminho
espetacularmente para a van que conduzia os prefeitos do Rio de Janeiro,
Eduardo Paes e o de New York, Michael Bloomberg.
A
visão era, sem dúvida, terceiro mundista. Em nenhuma cidade evoluída do planeta
andaime, obra e material como o plástico preto estariam perigosamente expostos
podendo, inclusive, provocar acidentes pela falta de proteção para quem por ali
circulava. Tudo estaria escondido por tapumes protetores e nada reveladores.
Na
hora da descida, para melhorar ainda mais o aspecto de "não ficou
pronto", quando a comitiva apontou no alto da ladeira funcionários
transitavam carregando pranchões de tábua pelo caminho.
Mico
é pouco para descrever a tão aguardada passagem das autoridades. Espetáculo
protagonizado pela empreiteira Dimensional e pelo anfitrião e alcaide do Rio de
Janeiro, Eduardo Paes, em plena Rio+20!
O
que nos leva a concluir que os próximos eventos serão antecedidos por atrasos e
prazos não cumpridos, como lamentavelmente acabamos de ver acontecer...
*
Este registro é dedicado ao engenheiro que afirmou que o visual apresentado não
o preocupava "por que parecia que a obra era do prédio", jogando a
culpa do vexame nos moradores! Grande inverdade: a responsabilidade pelo
aspecto deplorável descrito na visita histórica do prefeito de New York ao
morro é da empreiteira DIMENSIONAL, encarregada das obras que, há mais de um
ano, alteram a vida dos moradores do bairro e nos dão uma lição de como não se
deve conduzir esse tipo trabalho, especialmente no que diz respeito ao
relacionamento com os moradores do entorno de seus canteiros de obras. Se é
assim num bairro como o Leme, imaginem nas periferias...
*Valéria
del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte
da série “Ponta do Leme” do SEM FIM http://delcueto.multiply.com
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