O medo não seja um coator da palavra ao silêncio

O último capítulo

                                  Eliana Crivellari

Que se faça o capítulo último das histórias com sangue escritas.

Que não haja rendições, a não ser diante da fraternidade, da solidariedade, da bondade, da mais lídima generosidade.

Opressores sejam vencidos pelos pensamentos, palavras e ações de mulheres e homens de boa vontade.

Entendido fique, não basta observarmos como meros espectadores - quem sabe, apenas curiosos – os males a grassar impiedosamente em todos os rincões onde a guerra se instala.

Esclarecido se torne, países há sem lutas armadas cujos filhos morrem igualmente pelas armas letais da corrupção, do desrespeito à Terra,  do desacato aos Direitos Humanos, e o mais em tudo isso.

O medo não seja um coator da palavra ao silêncio.

Diluam-se os temores de tantos e quantos, exaltada a coragem dos que travam uma incansável batalha pela justiça.

Omissões pela causa do bem sejam banidas, quais ervas daninhas.

Ser sujeito da própria história.

Não permitir  páginas a se redigirem à nossa revelia, letras de dor, palavras de desalento, parágrafos de morte.

Que se alinhavem as últimas linhas sobre ditadores soberbos, e perversos, e a impiedade, extirpada,  esgote-se em sua própria nascente:a soberba, a insanidade mais vil e abjeta.

Não se teçam essas palavras apenas de ideais e de sonhos, mas como um convite abram-se para um mundo de regeneração.

Nosso cansaço, descanse.

Nossas descrenças, creiam.

Nossas crianças possam nascer e crescer em meio a possibilidades mil de uma vida digna, saudável, criativa, próspera em recursos, pródiga de alimentos para a alma e para o corpo.

A alma da poesia ilumine-se da poesia da alma do Amor.

Devaneios de horas ociosas?

Não os julguem assim!

São  legítimos anseios das almas inconformadas com as barbáries do mundo contemporâneo.

Que se pronuncie o Sim numa sala negativa, aquele  ensinado em um grande poema:

“[...] não sabeis que vosso filho

        saltou para dentro da vida?

        Saltou para dentro da vida

        ao dar seu primeiro grito;

        e estais aí conversando;

        pois sabeis que ele é nascido.”

                                  ( João Cabral de Melo Neto-in Morte e Vida Severina-

                                                Fiat Lux!