domingo, abril 15, 2012

Ao longo da minha longa vida eu tive oportunidade de observar, incontáveis vezes, o início e o fim do nosso ciclo vital terrestre.


Vida e morte

       

Gabriel Novis Neves



Dentre as maravilhas criadas por Deus não sei a que mais me emociona. Tudo criado por Ele é lindo, perfeito e atinge a minha sensibilidade.
Talvez a minha profissão de médico tenha me tornado um ser privilegiado. Ao longo da minha longa vida eu tive oportunidade de observar, incontáveis vezes, o início e o fim do nosso ciclo vital terrestre.
Como médico parteiro, eu considero o choro de um recém-nascido, anunciando o início da sua vida extrauterina, uma das maravilhas criadas por Ele.
É um privilégio concedido aos aparadores de crianças presenciarem esse fenômeno - que chega a ser escandalosamente lindo com a sua variedade de sons e o show da eliminação fisiológica das secreções da bexiga e intestino.
Essa beleza visual é encerrada com a dramaticidade das grandes peças do gênero: o corte do cordão umbilical, separando fisicamente filho e mãe.
Esse ato de separação é o momento em que, por segundos, esqueço-me de tanta beleza, se isso fosse possível, para me preocupar com o futuro daquela criança.
No instante é lançada a semente da afetividade, oxigênio que nos diferencia dos seres irracionais.
Se encontrar uma terra adubada para germinar e, se tiver cuidados especiais ao longo de seu crescimento e desenvolvimento, esta semente se transformará em um fruto forte. Será, no futuro, aquele ser ciente da sua cidadania - tão carente nos tempos de hoje.
O ciclo vital terrestre, iniciado com o nosso nascimento, terá um tempo pré-determinado por Ele. E, só por Ele - apesar de todos os avanços da ciência. Muitos têm esta compreensão. E é melhor mesmo que a tenhamos, pois o que não é compreendido e entendido, onde a razão não tem razão, nos traz sofrimento e tristeza.
Como prenúncio do final da vida terrestre, eis que volta a canção do nascimento - o choro.
Segundo algumas culturas, o choro final é sinal de alegria, o que não acontece conosco. É como se o primeiro choro do nascimento fosse de ganho, e o último, de perda.
Nem ganho nem perda, apenas uma invencionice de Deus que, na sua sabedoria, sabe o que faz.
Nova vida para os que se vão e para os que ficam. Quem vai, fica na presença da saudade, e quem fica, materializa uma vida nova.
A diferença que noto é de apenas alterações de rituais daqueles que chegam e daqueles que partem.
A vida e a morte são inseparáveis, sendo uma, pré-requisito da outra.
A sabedoria popular, através dos milênios, cunhou várias frases filosóficas no sentido de acordar aqueles distraídos de pensar.
“Basta estar vivo para morrer.”
Maior verdade que essa frase - tão repetida, e que comecei a ouvi-la ainda criança - é impossível. Nela está contida toda a nossa transitoriedade terrestre.
A maior experiência que a vida nos concede, por graça de Deus, é a morte.
Morrer é viver outra realidade, com uma nova vida.

7 comentários:

  1. Professor-Doutor Gabriel,manifesto aqui minha alegria por sua presença em Literacia. Seus artigos são iluminadores das consciências adormecidas, destaco porém este texto de hoje: -ímpar, de uma grandeza substantiva e máscula. Apreendo em cada linha, em cada letra, em cada palavra sua, a sublimaçao de seu Ofício: que todos os Médicos do Brasil o tornem mantra de suas vidas.
    Quem sabe assim, nosso Sistema de Saúde, se cure!
    Deus queira!
    Obrigada, muito obrigada!
    anamerij

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  2. Ilustre Professor:
    Um de seus mais belos artigos.
    Li emocionada, lembrando do médico que amparou meus filhos e a partida de um deles: como o Senhor, um Anjo em nossas Vidas.
    Rosa Clemente

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  3. Atingida em cheio em minha sensibilidade,
    faço minhas as palavras de Nana Merij e as de Rosa Clemente.
    Deus ilumine muito ao autor de palavras tão
    inspiradas, e ricas de ensinamento.
    Obrigada e parabéns,
    brilhe sempre a sua Luz,
    Eliana Crivellari

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  4. Lindas a edições dos artigos.
    Belíssimas apresentações.
    Muita generosidade nos comentários.
    Gostei.
    Agradeço,
    Gabriel Novis Neves

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  5. O que dizer diante este texto: emocionar e emocionar!
    Professor , sinto pena que tão poucos Médicos sejam hoje, como o Senhor.
    Deus lhe abençoe.
    Maria Zélia

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  6. Ilustre Professor,
    seu texto está espetacular. Está muito bem orquestrado. Acho que precisa ser bem difundido para reflexão,principlamente no meio acadêmico. Afinal, vivemos tempos difíceis, em que o ser humano acha que está podendo ocupar o lugar d'Ele. Viva a ciência, mas sem prepotência. E sinceramente, também escuto desde pequeno o dito popular: para morrer, basta estar vivo. Simples, direto, "verdade" imutável. Parabéns pelo texto Dr. Gabriel.
    Abraços,
    Junior - filho da colunista Eliana Crivellari

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  7. Belíssimo texto, que consegue unir com palavras as duas pontas da corda da vida: o nascer e o morrer. Parabéns Dr. Gabriel por tanta delicadeza no trato para com a vida, tanto a que surge como a que se vai.
    Pauline Oliveira - Belo Horizonte

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