sexta-feira, março 09, 2012

Já não o encontro nas trilhas musicais dos churrascos deliciosos e das mateadas para que me convidam.

Dos Pampas ao Chaco


Valéria del Cueto
Para mim, viajar é um quase tudo. Seja uma viagem real ou virtual, me chama que eu vou! O chamado inicial que me tirou, mais uma vez, (oba!) da inércia pós-verão carioca carnavalesco (inércia é apenas imagem metafórica, claro), dessa vez, foi para voltar aos pagos e rever os pampas. Não apenas o gaúcho, mas, também, o argentino.
E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz a música da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul. Meu pingo Saudade, mal pisa no chão e quando as rédeas do tempo me escapam da mão me pego, em meio às festas do carnaval fora de época de Uruguaiana, procurando um pouco do chão campeiro.
Já não o encontro nas trilhas musicais dos churrascos deliciosos e das mateadas para que me convidam. Os sons da gaita de oito baixos e das batidas dos bumbos legueiros foram substituídos por um produto comercial, em minha opinião (eu disse na minha opinião) de quinta categoria, um breganejo universitário, seja lá o que isso signifique. Acho um lixo, que me perdoem os aficionados.
A troca quase parou meu poético coração gaudério ao ferir meus ouvidos apurados que buscavam o mais puro nativismo gaúcho. E, o que é pior, virei quase uma piada entre a garotada que em cujos olhos via legendas do tipo: “ Mas bah, que carioca saudosista”. Para parar de reclamar, ganhei um CD de músicas baguais, tipo um “top teen” do mais ou menos. Uma coletânea  pasteurizada, nada comparada as dezenas de obras primas que tive o prazer de cantar e divulgar nos tempos áureos da Califórnia de Uruguaiana.
A tal da globalização engoliu as diferenças, em vez de sublimar as particularidades! Era de se esperar, por mais que focos de resistência tenham tentado preservar os ninchos poéticos e melodiosos da melhor produção nativista gaúcha. Que não me obriguem a ouvir essa porcaria vigente, de rima pobre e acordes fáceis. Não nasci para isso. Meu gosto musical não comporta “Quero te namo, quero te namo, quero te namorá”.
Em busca de algo mais puro e menos burro sigo me internando ainda mais nas entranhas sul-americanas e, pasmem, pretendo seguir para o Paraguay, cruzando Corrientes e seguindo Encarnacíon adentro, conhecendo novas antigas terras, graças a mais uma grata surpresa. Eu, que sempre tive o Paraguay no corazón, por haver morado na fronteira do então uno Mato Grosso, em Ponta Porã e Bela Vista e, tendo tentado inutilmente palmear de novo estas terras fronteiriças, partido de minha base cuiabana, após a decepção de descobrir que teria que ir a São Paulo para chegar na capital paraguaia de avião, acabo de abrir um mapa e “descobrir” que a distância que me separa de lá, partindo aqui de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, é de uns míseros 700 quilômetros!
Estou juntado os “peçuelos” (alforjes), carregando (literalmente) as baterias, tanto as minhas, ainda exauridas da maratona carnavalesca que se prolonga aqui na fronteira num carnaval fora de época, quanto as da câmera fotográfica, e botando os pés na estrada por caminhos que ainda desconheço. Que delícia!
Para não faltar um motivo prático me convenço que meu objetivo é conhecer o Museo del Barro, que a jornalista Justina Fiori disse ser interessantíssimo. Claro que há mais, muito, mais nessa viagem. Reencontrar amigos e rever gente que sempre morou no meu coração sem precisar pagar aluguel.
Como sou generosa e gosto de partilhar minhas andanças, comigo segue a Juca, minha prima, com quem tenho uma afinidade, digamos, específica. Ela também faz parte do seleto bloco “Me chama que eu vou”, aquele que agrega um tipo de gente que não refuga diante de uma viagem e tem sempre “o pé que é um leque”, pronto para sair andando por esse mundão de Deus. Mando notícias!
PS: A música pode estar assim, assim, mas quando o assunto é o churrasco, fico sem palavras. Aprendi quando criança que é feio falar de boca cheia!
* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série “Fronteira Oeste do Sul”, do SEM FIM

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