Mil e quantas mais
Texto e foto de Valéria del Cueto
Vou
começar, antes que acabe. É isso mesmo. Acabe o tempo para entregar ao
diagramador mais uma crônica, ainda da Ponta do Leme (sentiu o quase
movimento?).
Hoje
é sexta feira, mas cá entre nós não parece! O tempinho chinfrim que se espalhou
pelo Brasil chegou a minha beira mar, deixando um céu chumbento, sem atrativos
com um ventinho vagaba e implicante. Ele não para de despentear meus cabelos
que se encarregam de fazerem cócegas na ponta do meu nariz alérgico da mudança.
Já deu pra avaliar o nível de concentração do início da tarde. Zero.
O
mar baixou um pouco, mas ainda está mexido reflexo da última ressaca que, entre
outras coisas, carregou dois viventes imprudentes e desprevenidos do Caminho
dos Pescadores, na Pedra do Leme. Foram fisgados de volta à terra firme,
machucados e molhados, pelo Corpo de Bombeiros. Aqueles heróis de sempre, no
lugar certo como sempre, mal pagos sempre.
Quando
fincaram a placa avisando que a correnteza estava perigosa, ainda havia ele - o
sol - e o céu estava azul, mais que a cor do mar. Mas isso foi antes.
Agora,
tá tudo cinza, com ou sem você. Nada animador. Ou melhor, muito inspirador pra
gente ficar na caminha lendo um bom livro, vendo um filme e, por
decorrência, comendo pipoca enroladim num edredon.
Diz
que pras bandas de Cuiabá a neblina tomou conta do entorno e invadiu até as
almas mais poderosas. Pela foto que recebi do meu serviço particular de
meteorologia local vai ser ruim o cuiabano botar a cabeçinha pra fora da
soleira de sua residência... Quem me manda as fotos diárias que me mantém
informada e localizada na temperatura básica de Cuiabá é o mesmo ser bondoso
que, esta semana, atingiu a marca das 1000 crônicas publicadas nos
jornais, blogs e sites espalhados pelo Brasil, o magnífico Gabriel Novis Neves.
Lembro
quando ele começou a escrever. Certamente nunca lhe passou pela cabeça que
seria uma Sherazade cuiabana e, em tão pouco tempo, alcançaria suas mil e uma
histórias. Hoje responsáveis por manter, não um boi, mas uma boiada inteira de
leitores atentos e interessados no que ele tem para dizer. Fantasia, ou não. E
olha que a caixa de Pandora aberta nessas crônicas expos uma fresta da imensa
cultura e dos variados interesses que movem o cronista em tela. Foi uma
surpresa para muita gente.
Num
primeiro momento, a novidade se espalhou e ele fisgou os aficionados pelo seu
estilo literário direto e enxuto que, um dia me explicou, envolvia uma apresentação
do assunto, a anamnese e, finalmente, um possível diagnóstico. Coisa de médico.
Competente.
Com
o passar do tempo, quem foi acompanhando o conjunto da obra, começou a reparar
que os textos curtos poderiam ser ligados entre si e, aí, as histórias (que
poderiam ser para boi dormir) passaram a ter um significado complexo e
contundente. Alguns acharam que ele havia enlouquecido. Outros, que estava indo
longe demais ao colocar na roda o que achava dos acontecimentos que agitam a
comunidade em que vive... Não houve pressão que desestimulasse o autor. Ele
prossegue cutucando, informando, questionando e procurando respostas para as
questões que afligem, não apenas a ele, mas a sociedade como um todo.
Por
isso, acredito que essas histórias ainda serão contadas por muitas e muitas
crônicas. Daquelas que nos estimulam e fazem pensar no que somos e para onde
vamos. Como essas são respostas ainda distantes de serem alcançadas, cabe a
nós, não apenas buscá-las instigados pelo autor, mas na medida em que qualquer
luz seja jogada sobre elas, fazer o possível para divulgá-las para o maior
número de pessoas possível.
Admiro
este percurso e procuro seguir este caminho numa frequência
exponencialmente menor. O que sempre o fará maior. Ser cronista aprendiz não é
fácil...
*Valéria
del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte
da série “Ponta do Leme” do SEM FIM
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