sexta-feira, abril 13, 2012

Passei perto, bem perto... É sério! Ganhei, mas não levei. Igualzinho ao meu Flamengo...




Texto e foto de Valéria del Cueto
Não me dê mais nenhum motivo pra ir embora. Os que estão postos são mais do que suficientes. O que vou contar pra vocês hoje pode parecer ficção, mas não é.
Sabe quando você sabe que tudo pode não dar certo? É hoje! Não estou sendo pessimista, ao contrário. Me orgulho de conseguir manter a mente certa, a espinha reta (haja hidroginástica) e o coração (quase) tranquilo em meio as turbulências inerentes a atual e inevitável conjunção celeste.
Tentei. E - juro - sigo insistindo por que sou uma otimista por princípio. Sexta-feira. É hoje! Não vou dizer o dia, por que não pretendo datar essa anti-saga, mas basta fazer umas continhas pra você, leitor, descobrir a data exata.
O sol brilha, o tempo está firme, não há vento... Estou no meu Leme.
Tudo que pedi a Deus, menos um pouco. A parte de me dar a graça de poder escrever a crônica semanal no meu caderninho na praia vendo a rapaziada empenhada numa partida de futebol da areia, acompanhando o chuleado das pranchas sobre as ondas de um mar quase deserto, essa não alcancei. E olha que estou seca pra chegar ao paraíso da inspiração literária, pelo menos da minha.
Passei perto, bem perto... É sério!  Ganhei, mas não levei. Igualzinho ao meu Flamengo (mais uma dica pra datar essa crônica).
Acontece que, além de sexta-feira (aquela), é também mês de abril, que chamo de “abreu”, já que é aquele em que tudo dá, mesmo o que não plantamos nem desejamos para o pior inimigo: obras, problemas, transtornos, volta à realidade e assim por diante. É como se fosse um inferno astral adiantado.
Estranho? Mas sou estranha e essa característica astrológica nesse período do ano me persegue faz é tempo. Demorei pra detectar. Quando o fiz, passei a concentrar nessa época minhas piores tarefas. Já que é pra bater de frente que seja no sentido mais amplo e irrestrito das paradas duras cotidianas inevitáveis.
E, aí, nesse contexto, vem a obra! Por ela e para ela estou imobilizada, de castigo e sem saída. Tenho que ficar de babá, vendo o pedreiro e seu ajudante passar pra lá e pra cá enquanto cultivo e alimento minha alergia a tinta, verniz, massa corrida e pó. Mas isso é depois, daqui a pouquinho!
Hoje é só a data de entrega do material. Aquele que esperei em vão durante tooooda a manhã. O que chegou justamente no minuto em que, ciente de que meu tempo para “cronicar” estava se reduzindo e era hora do almoço, resolvi botar o pé na sensacional praia acima descrita. Não repararam a perfeição dos detalhes das delícias da minha Ponta do Leme, que só vi de longe?
Não tive nem a oportunidade de estender a canga. Quando acabei de estudar a vizinhança e a maré (hoje é dia de lua minguante) pra resolver onde me instalar o celular tocou anunciando que a entrega estava chegando no apartamento...
Voltei pra casa sabendo que ali morria a chance de escrevinhar na areia. Era agora. Ou nunca poderia juntar a fome de escrever com a vontade de respirar o ar do mar, ouvindo seu barulho, com o sol batendo nas minhas costas. O deadline me pegaria pelo pé e, falhar, jamais!
Tive que trocar o paraíso pelo princípio do purgatório que me embalará nos próximos dias. Disse purgatório e sabe o porque? Por que no inferno dá tudo errado! No purgatório parece que vai dar tudo errado, mas as coisas, vagarosamente e como um caranguejo que caminha de lado, elas vão se movendo. Como já disse, é “Abreu”! Tempo de ter paciência e agradecer quando as coisas andam. Pra qualquer lugar.
Tá bom pra você? Pois faltou um detalhe: a lua hoje míngua, como eu, para depois...
*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série “Ponta do Leme” do SEM FIM

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