Kit viagem
Valéria del Cueto
Viajar é uma emoção permanente onde o mais importante é a noção de que temos que nos despir de preconceitos e receber com bom humor e espírito esportivo as possibilidades que se apresentam no percurso escolhido.
Comigo sempre foi assim, desde criancinha. Especialmente nas longas distâncias. E quando falo de grandes viagens me refiro também às dificuldades inerentes aos meios de transportes adotados.
Entre o Rio de Janeiro, terra onde nasci, e Ponta Porã, onde fomos morar quando tinha 6 anos, a primeira viagem para lá incluiu um avião militar de Guaratinguetá, São Paulo, a Campo Grande, Mato Grosso, ( isso mesmo, foi muito antes da divisão), depois de irmos no fusca do meu avô da Ponta do Leme até a cidade paulista.
O vôo, o primeiro da minha vida, foi cheio de emoções e turbulências. Elas provocaram um enjôo que me fez vomitar a maçã gentilmente oferecida pelo brigadeiro que seguia para uma inspeção e nos deu uma espetacular carona aérea num avião dos tempos da segunda guerra!
Nunca mais comi maçã quando enjoada, nem que minha mãe tentasse me obrigar, o que foi o caso em questão. Acho que foi ai que passei a pensar duas ou três vezes quando recebia uma ordem dela. Esse “benefício” da dúvida me persegue até hoje...
Não me lembro como fomos até Ponta Porã. Acho que de ônibus, por estrada sem asfalto que cortavam o então Mato Grosso. A dúvida fica por conta da roupa que, tenho certeza, usávamos quando chegamos ao nosso destino: calças cinza, de flanela! Meio parecidas com as usadas por Tintin, o personagem dos quadrinhos francês.
Já eram estranhas pelo estilo, ficaram esdrúxulas pelo calor inesperado de 40 graus que fazia em pleno inverno na vila militar, aonde chegamos com malas, bagagens e ainda sem casa para morar.
As indumentárias de viagem atrasaram um pouco nosso entrosamento com as crianças do lugar, que nos olhavam com ar de “o que são esses seres esquisitos uniformizados para o inverno?”
Outro fator foi o nosso sotaque inconfundível carioca cheio de chiados e totalmente diferente do pessoal do entorno que viria a se tornar nossa realidade nos quatro anos que se seguiram e nos transformariam em experts na arte de viajar, o que acontecia religiosamente, graças a Deus, em todas as férias, as de julhos e as de fim de ano.
Usamos vários meios de transportes, por terra e por ar: trens ( outra experiência inesquecível), carros ônibus e avião.
O negócio era chegar aos destinos e fazer dos percursos aventuras agradáveis, sem deixar que o mau humor (ai, papai!) que poderia contaminar os dias de deslocamento tornasse os trajetos num inferno.
Para isso cada um de nós, a Gisela, o Mickey e eu, levávamos uma malinha, com objetos pessoais e passatempos, como baralho, livrinhos, jogos e outras distrações.
Por que estou contando tudo isso? Por que a viagem em que estou nesse momento começou com o anúncio de uma greve da empresa de ônibus argentina pela qual compramos a passagem, com dias de antecedência, e pretendíamos viajar!
E olha que no quesito diversão falhei, sim, apostei todas as minhas fichas na máquina fotográfica e não considerei a hipótese que os vidros cobertos de poeira pudessem limitar meu raio de ação fotográfica!
Como meu espaço semanal está no fim, e para evitar os justíssimos protestos dos meus queridos editores, essa historia vai ficar para uma próxima vez. Hasta La vista...
* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série e “Ponta do Leme”, do SEM FIM
"Viajar é uma emoção permanente onde o mais importante é a noção de que temos que nos despir de preconceitos e receber com bom humor e espírito esportivo as possibilidades que se apresentam no percurso escolhido."
ResponderExcluirE assim, a vida.
Obrigada, Valéria, por dividir conosco suas experiências, de forma tão agradável, mesmo em viagem, e com dificuldade no teclado,
bjs
Eliana Crivellari