segunda-feira, novembro 07, 2011

A leitura compulsiva seria o santo remédio.

Que remédio?


[Texto e foto de Valéria del Cueto]

Preparou-se cuidadosamente. Sabia que o tempo desperdiçado incomodaria profundamente sua mente a mil por hora. Portanto, muniu-se do necessário para evitar o colapso eminente.

Conhecia a cura para seus males. Milagrosa, diga-se de passagem. Um bom livro resolveria seus problemas. De preferência um que levasse para bem longe. Se possível, no tempo e no espaço.

Fuçou a livraria de alto a baixo, detestando a mania serial tão em voga atualmente. Queria algo que começasse e terminasse num único volume. Tarefa complicada que levou um tempo razoável.

Voltou para a casa contente, ciente que parte de seus drama ficariam esquecidos. Seu conflito espacial, que tanto mal fazia à sua personalidade existencial, trocado por outros cenários, outras cidades, países, culturas. O necessário para recuperar sua - já se sabia - prejudicada auto-estima no período crítico. A leitura compulsiva seria o santo remédio.

Não agüentou esperar os sintomas se manifestarem. Virou ladrão das emoções e aventuras dos personagens tão logo desabou no seu espaço reduzido. Adiando compromissos, cancelando encontros, trocou a duvidosa realidade pela certeza de um final qualquer.

Andou por Sidney, na Austrália, Bósnia, Viena, Florença, na Europa e... virou a página.

Branco. Em branco. Ambas. Amarelas pra falar a verdade e sem a tinta, a que faz o caminho dos livros andarem, e as palavras que formam desenhos como trilhas de formigas que se cruzam entre as linhas, antes de revelarem seu conteúdo codificado pela linguagem. Nada.

Virou mais uma folha. Normal. Checou a numeração. Vã esperança, ausência. Dispôs-se a seguir em frente que a estória esperava impaciente sua decisão para prosseguir seu curso natural. Embarcou de novo, até...

Virar a página e nada, novamente. Contrariedade à parte resolveu checar o restante do volume.
Intermitentes, intransigentes, lá estavam outras lacunas. Várias, muitas. Impossibilitando a continuação da viagem e, conseqüentemente, o tratamento. Aquele, pretendido inicialmente.
O caos se aproximava. Antes do desastre total, correu à livraria, para trocar o livro e recomeçar de novo.

Teve que esperar o horário. Quando chegou descobriu que o comércio estava fechado, só a praça de alimentação e uma loja de departamentos funcionavam. Era o feriado.

No fundo da loja, uma estante de bestsellers: auto-ajuda, culinária e... séries.

Desistiu e, rendido às circunstâncias, ainda carregando o objeto da troca frustrada, se dirigiu ao caixa com o primeiro de vários livros, tipo saga mesmo.

Era tarde...

O valor da capa não foi o registrado na máquina que, é claro, cobrou a mais. A discussão nem começou. Valia o preço estampado na etiqueta que maculava a arte do impresso. Mas o cartão de crédito havia sido passado. Valor estornado, o atendente não quis entregar o  recibo não assinado. Supervisor acionado, este se recusa a solucionar o problema.

Resumindo: o mal estava feito. O pau quebrou e o remédio perdeu a eficácia.

Que assim seja! Ele bem que tentou. É hora de partir pra dentro e fazer sua história. O Egito pode esperar...

 Valéria del Cueto

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