quinta-feira, junho 28, 2012

O hilário nessa matéria é que, segundo a jornalista de Brasília, todo esse esforço é para atender a uma “encomenda” feita pela Presidente da República aos ministros da Educação e da Saúde.


Como se faz um professor


Gabriel Novis Neves

A jornalista Lígia Formenti informa que o governo terá que contratar 1.618 professores para atender a ampliação das vagas de medicina nas universidades federais, segundo o Ministro da Educação.
Considerando que haverá também expansão na rede privada de medicina, esse número sobe para 2.415 professores.
O hilário nessa matéria é que, segundo a jornalista de Brasília, todo esse esforço é para atender a uma “encomenda” feita pela Presidente da República aos ministros da Educação e da Saúde.
Em ano eleitoral vale tudo para ganhar votos nos grandes polos onde serão instalados os novos cursos de medicina, ou ampliado o número de vagas existentes.
Como se atende esse tipo de “encomenda” em um curso considerado nobre que, para ser professor, se exige curso de mestrado e doutorado, quando não, o pós-doutorado?
Temos mestres e doutores nas pequenas cidades onde serão implantados esses novos cursos ou aumentado o número de vagas?
As universidades federais não possuem autonomia para fornecer aos docentes de fora (que serão necessários nesse primeiro momento) salários diferenciados, como os das universidades particulares.
O prefeito fará vaquinha para pagar por fora esses profissionais?
O MEC, tão rigoroso nas suas avaliações, teria um comportamento diferente nessas escolas de medicina “encomendadas”?
A inserção do aluno em práticas hospitalares (Semiologia) é precoce. Como fazer isto nas cidades que não têm rede de assistência primária e o hospital da cidade é gerenciado pelas chamadas Organizações Sociais, onde o objetivo é o lucro e não o ensino?
Esses são alguns pontos de reflexão para se evitar o aumento de fábricas de analfabetos funcionais.
Todo mundo sabe que o grande problema no Brasil é a falta de políticas para a fixação do médico no interior, e não, a falta destes profissionais.
Hoje, praticamente, todas as instituições federais de ensino superior estão em greve reivindicando melhores salários, plano de cargos e salários e condições mínimas de trabalho.
O ensino superior também está sucateado e, no caso da medicina, os seus hospitais universitários funcionam (?) abaixo do desejável.
Todos os que trabalham com educação sabem o quão difícil e custoso é a formação de um professor. Atualmente, muitos fazem a melhoria teórica da sua qualificação acadêmica unicamente para usufruir dos benefícios de uma melhor aposentadoria.
Outros, após a qualificação desejada, abandonam o serviço público altamente desmotivador e ficam apenas na medicina privada.
A transformação de um profissional liberal médico para um bom professor é um dos maiores desafios pedagógicos. Não basta ser um excelente profissional para ser um bom professor.
Segundo Cristovão Buarque existe uma liturgia para se ter o bom professor, em que a cabeça, coração e bolso são fundamentais.
Não há possibilidade de se chamar de professor aquele que não possui conhecimentos, que diariamente são acrescidos ou invalidados. O professor é um eterno aluno que vive estudando e, “de repente”, aprende.
O verdadeiro professor tem que amar o que faz. Ensinar é um ato de amor de um coração que compreende que a educação é o único caminho para a ascensão social do estudante.
Finalmente, o professor tem que ser bem remunerado para viver com dignidade.
Se todos os professores universitários federais estão de bolsos vazios, no próximo ano, só de professores de medicina, teremos um aumento de 1.618 novos participantes na greve da falta de respeito com a nação brasileira que “encomenda” cursos de medicina.

O Brasil já possui, em funcionamento, mais de 180 escolas médicas.
O Conselho Federal de Medicina garante que não há necessidade de aumentar o número de vagas para os cursos de medicina.
O presidente do colegiado, Roberto D’Avila, disse ser um equívoco essa “encomenda”: “- Isso não vai resolver o problema da falta de assistência no Sistema Único de Saúde (SUS)”.
“Teimosia e estupidez são gêmeos.” – Sófocles-Grego (496-406 a.C.).

quarta-feira, junho 27, 2012

Só que, igual a doce, passou do ponto. A ordem fragilmente estabelecida na entrada das comunidades desandou.


Pedra cantada - Na Rio +20 a passagem "D" les no pé da ladeira



Texto e foto de Valéria del Cueto
Finalmente a tarde tão esperada havia chegado! Ruas limpas, carros removidos, maquiagem tinindo, fita exu para todo lado delimitando as vagas exclusivas da "organização" do evento.
Espaço reordenado, é a hora de uniformizar os figurantes da festa. Os mototaxistas que sobem com os moradores e seus pacotes, partindo do pé da ladeira Ari Barroso, ganharam camisetas com os dizeres LEME SERVICE (chamem o Ancelmo Gois!) pra gringo entender.
Só que, igual a doce, passou do ponto. A ordem fragilmente estabelecida na entrada das comunidades desandou. Inexplicavelmente um trator despejou de sua caçamba canos, caixas d'água, e outros badulaques na esquina onde, anteriormente, estavam os tapumes que formavam a bandeira do PAC. Removidos, no local as pedras portuguesas foram recolocadas deixando o trecho à direita de quem sobe com cara de calçada novamente. Até ser ocupado pelas tralhas, minutos antes do início do ritual de passagem da comitiva oficial morro acima.
Mais cedo, para mostrar serviço, outro alguém resolveu dar mais uma guaribadinha no entorno e aboletou um andaime na calçada da subida. Objetivo: consertar pedaços de reboco despencado do prédio, acima dos sensacionais grafites de artistas da  comunidade.

Preocupado em não lambrecar a obra de arte, um vistoso plástico preto protegia o desenho - feito dois dias antes - dos resíduos do cimento preparado no piso de tábuas da estrutura onde se apoiava a escada utilizada pelo funcionário encarregado de remendar as quinas da parede... E a bagunça recomeçou.
Após limparem até cartazes pregados nos postes da ladeira, mais no alto mandaram pintar as portas do ferro do depósito, bem em frente ao bueiro de esgoto que insistia em transbordar e descer pelo meio fio na direção da rua lá embaixo.
Foi neste contexto e com esse aspecto de desleixo que os batedores abriram caminho espetacularmente para a van que conduzia os prefeitos do Rio de Janeiro, Eduardo Paes e o de New York, Michael Bloomberg.
A visão era, sem dúvida, terceiro mundista. Em nenhuma cidade evoluída do planeta andaime, obra e material como o plástico preto estariam perigosamente expostos podendo, inclusive, provocar acidentes pela falta de proteção para quem por ali circulava. Tudo estaria escondido por tapumes protetores e nada reveladores.
Na hora da descida, para melhorar ainda mais o aspecto de "não ficou pronto", quando a comitiva apontou no alto da ladeira funcionários transitavam carregando pranchões de tábua pelo caminho.
Mico é pouco para descrever a tão aguardada passagem das autoridades. Espetáculo protagonizado pela empreiteira Dimensional e pelo anfitrião e alcaide do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, em plena Rio+20!
O que nos leva a concluir que os próximos eventos serão antecedidos por atrasos e prazos não cumpridos, como lamentavelmente acabamos de ver acontecer...
* Este registro é dedicado ao engenheiro que afirmou que o visual apresentado não o preocupava "por que parecia que a obra era do prédio", jogando a culpa do vexame nos moradores! Grande inverdade: a responsabilidade pelo aspecto deplorável descrito na visita histórica do prefeito de New York ao morro é da empreiteira DIMENSIONAL, encarregada das obras que, há mais de um ano, alteram a vida dos moradores do bairro e nos dão uma lição de como não se deve conduzir esse tipo trabalho, especialmente no que diz respeito ao relacionamento com os moradores do entorno de seus canteiros de obras. Se é assim num bairro como o Leme, imaginem nas periferias...
*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série “Ponta do Leme” do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

terça-feira, junho 26, 2012

E encantamento tanto, A fazer fluir o rio de uma biografia...



Rimas da Saudade

                             Eliana Crivellari

No coração da Saudade
Encontrei relíquias caras, muito caras
Venturas  sublimes vividas...
E sentia-se ali o pulsar da Eternidade!

Pois nem tudo é dor
Nos  cantares nostálgicos
Do que o tempo levou.

No coração imenso da Saudade
Vi uma veia imensa, infinita
Incomensurável, sangue bom
A nutrir de benignidade o início
De um Amor em tenra idade

Lá onde planos se fizeram
E dois se uniram,
E um lar se construiu em devaneios
E vieram seres, quais Anjos,
E os chamamos de filhos, nossos bebês,
A enfeitar-nos o existir de pureza
E era a Casa da Beleza, e éramos nós,
Canções divinais a uma só voz.

E nada é pranto
No evocar do que foi canto
E encantamento tanto,
A fazer fluir o rio de uma biografia
Bordada de quantas outras mais...
Pérolas, brilhantes, ouro,
Jazidas de ontem, cintilantes,
Minas de realizados sonhos
Em que tudo era Sacrossanto!

Rimas da Saudade...
Nem só dor,
Nem lágrimas vertidas tão somente,
Ouvir também o que nos soa...suave...
               Ecos da Felicidade!

domingo, junho 03, 2012

Minha poesia está a fazer rezas


A poesia que não fiz...


                                                      Eliana Crivellari

Ah! a poesia que não fiz,
os versos que ainda não pude escrever,
ah! meus pobres versos
pedem o anverso,
o reverso,
rogam por águas limpídas,
imploram por nossos índios,
lamenta o imponderável,
mais-que-lastimável-imponderável
choro de nossa gente,
brasileira gente,
assassinada.

Minha poesia está a fazer rezas
antigas rezas em minha infância aprendidas,
para sempre jamais esquecidas,
embora o tempo longe vá.

Para tão longe o tempo voou!

Minhas rimas serão impossíveis,
serão absurdas,
impuras se tornarão,
se não vibrarem o Hino da Terra,
se não forem acordes
sonoros, em uníssono,
com a grandeza do Universo.

Gaia, Terra Mãe,
não posso poetar
vendo-a prantear seus prantos

de dor

de uma intensa dor
gemida,
sentida, vivida, urdida em seus seios-
leite seco que já não alimenta,
sangue de uma gestação interrompida,
de uma evolução transferida,
para não sei onde,
não sei como,
não sei quando....
Não sei.

Minha poesia pede tempo
e trabalho...pela Vida de todos nós!