Como se faz um professor
Gabriel Novis Neves
A
jornalista Lígia Formenti informa que o governo terá que contratar 1.618
professores para atender a ampliação das vagas de medicina nas universidades
federais, segundo o Ministro da Educação.
Considerando
que haverá também expansão na rede privada de medicina, esse número sobe para
2.415 professores.
O
hilário nessa matéria é que, segundo a jornalista de Brasília, todo esse
esforço é para atender a uma “encomenda” feita pela Presidente da República aos
ministros da Educação e da Saúde.
Em
ano eleitoral vale tudo para ganhar votos nos grandes polos onde serão
instalados os novos cursos de medicina, ou ampliado o número de vagas
existentes.
Como
se atende esse tipo de “encomenda” em um curso considerado nobre que, para ser
professor, se exige curso de mestrado e doutorado, quando não, o pós-doutorado?
Temos
mestres e doutores nas pequenas cidades onde serão implantados esses novos
cursos ou aumentado o número de vagas?
As
universidades federais não possuem autonomia para fornecer aos docentes de fora
(que serão necessários nesse primeiro momento) salários diferenciados, como os
das universidades particulares.
O
prefeito fará vaquinha para pagar por fora esses profissionais?
O
MEC, tão rigoroso nas suas avaliações, teria um comportamento diferente nessas
escolas de medicina “encomendadas”?
A
inserção do aluno em práticas hospitalares (Semiologia) é precoce. Como fazer
isto nas cidades que não têm rede de assistência primária e o hospital da
cidade é gerenciado pelas chamadas Organizações Sociais, onde o objetivo é o
lucro e não o ensino?
Esses
são alguns pontos de reflexão para se evitar o aumento de fábricas de
analfabetos funcionais.
Todo
mundo sabe que o grande problema no Brasil é a falta de políticas para a
fixação do médico no interior, e não, a falta destes profissionais.
Hoje,
praticamente, todas as instituições federais de ensino superior estão em greve
reivindicando melhores salários, plano de cargos e salários e condições mínimas
de trabalho.
O
ensino superior também está sucateado e, no caso da medicina, os seus hospitais
universitários funcionam (?) abaixo do desejável.
Todos
os que trabalham com educação sabem o quão difícil e custoso é a formação de um
professor. Atualmente, muitos fazem a melhoria teórica da sua qualificação
acadêmica unicamente para usufruir dos benefícios de uma melhor aposentadoria.
Outros,
após a qualificação desejada, abandonam o serviço público altamente
desmotivador e ficam apenas na medicina privada.
A
transformação de um profissional liberal médico para um bom professor é um dos
maiores desafios pedagógicos. Não basta ser um excelente profissional para ser
um bom professor.
Segundo
Cristovão Buarque existe uma liturgia para se ter o bom professor, em que a
cabeça, coração e bolso são fundamentais.
Não
há possibilidade de se chamar de professor aquele que não possui conhecimentos,
que diariamente são acrescidos ou invalidados. O professor é um eterno aluno
que vive estudando e, “de repente”, aprende.
O
verdadeiro professor tem que amar o que faz. Ensinar é um ato de amor de um
coração que compreende que a educação é o único caminho para a ascensão social
do estudante.
Finalmente,
o professor tem que ser bem remunerado para viver com dignidade.
Se
todos os professores universitários federais estão de bolsos vazios, no próximo
ano, só de professores de medicina, teremos um aumento de 1.618 novos
participantes na greve da falta de respeito com a nação brasileira que
“encomenda” cursos de medicina.
O
Brasil já possui, em funcionamento, mais de 180 escolas médicas.
O
Conselho Federal de Medicina garante que não há necessidade de aumentar o
número de vagas para os cursos de medicina.
O
presidente do colegiado, Roberto D’Avila, disse ser um equívoco essa
“encomenda”: “- Isso não vai resolver o problema da falta de assistência no
Sistema Único de Saúde (SUS)”.
“Teimosia
e estupidez são gêmeos.” – Sófocles-Grego (496-406 a.C.).